sábado, 2 de junho de 2012

GOTAS DE ESPIRITUALIDADE - Junho/2012


Os tormentos voluntários

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5 - itens 23 e 24, Bem-aventurados os aflitos, Boa Nova Editora.

 

O homem está incessantemente em busca da felicidade que lhe escapa sem cessar, porque a felicidade sem mescla não existe sobre a Terra. Entretanto, apesar das vicissitudes que formam o cortejo inevitável desta vida, poderia pelo menos gozar de uma felicidade relativa, mas ele a procura nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, quer dizer, nos prazeres materiais, ao invés de a procurar nos prazeres da alma que são um antegozo dos prazeres celestes, imperecíveis; em lugar de procurar a paz do coração, única felicidade real deste mundo, é ávido de tudo aquilo que o pode agitar e o perturbar; e, coisa singular, parece criar propositadamente tormentos que não lhe cabe senão evitar.
Haverá maiores tormentos que aqueles causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento não há repouso; estão perpetuamente em febre; o que eles não têm e o que os outros possuem lhes causam insônia; os sucessos dos seus rivais lhes dão vertigem; sua emulação não se exerce senão para eclipsar seus vizinhos, toda sua alegria está em excitar, nos insensatos como eles, a cólera do ciúme de que estão possuídos. Pobres insensatos, com efeito, que não sonham que talvez amanhã lhes será preciso deixar todas essas futilidades cuja cobiça envenena sua vida!
Não é a eles que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”, por que seus cuidados não são daqueles que têm sua compensação no céu. De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico porque, se olha abaixo de si, em lugar de olhar acima, verá sempre pessoas que têm menos ainda; é calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas, e a calma, no meio das tempestades da vida, não será felicidade? (Fénelon, Lyon, 1860).
Todo mundo fala da infelicidade, todo mundo a experimentou e crê conhecer seu caráter múltiplo. Eu venho vos dizer que quase todo o mundo se engana, e que a felicidade real não é tudo aquilo que os homens, quer dizer, os infelizes, a supõem. Eles a veem na miséria, no fogão sem lume, no credor ameaçador, no berço vazio do anjo que sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e de coração partido, na angústia da traição, na nudez do orgulhoso que gostaria de se cobrir de púrpura, e que esconde com dificuldade sua nudez sob os farrapos da vaidade; a tudo isso, e a outras coisas ainda, se chama de infelicidade na linguagem humana. Sim, é a infelicidade para aqueles que não veem senão o presente; mas a verdadeira infelicidade está nas consequências de uma coisa mais do que na própria coisa. Dizei-me se o acontecimento mais feliz para o momento, mas que tem consequências funestas, não é, em realidade, mais infeliz que aquele que causa primeiro uma viva contrariedade, e acaba por produzir o bem? Dizei-me se a tempestade que quebra vossas árvores, mas saneia o ar dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade. (...)

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